morro do Macaco

sábado, outubro 11, 2008

poema-piada: motel Português (1)


motel Nossa Senhora de Fátima



domingo, junho 15, 2008

o tango do fim

terça-feira, maio 20, 2008

Michel de Montaigne

Uma Maria: Djalmão, meu nego, deixe de lado as preocupações e seja feliz!!



Djalmão: Eu quero então é beijaaaaaaaar!

sexta-feira, maio 16, 2008

sofá

Percorro seu corpo descomunal. Caminho pelas suas cicatrizes, mapa mundi, palma da mão. Corro sobre suas sardas, meu tapete persa, contemplo-me no abismo das suas pupilas, árvores frondosas, mangues, orquídeas, a praia deserta de Ipanema, as pedras do Arpoador, o sahara, o sertão, cavalos ensangüentados, cabelos de medusa, trovoadas de chuva – e as coisas que ela ri, sacanagens que ela geme, gargalhadas que ela berra e chora quando furiosamente mordo sua boca. Esqueço-me a sombra das suas tetas lisas e escorregadias. Com saliva redesenho as linhas das suas tatuagens, seu pescoço, o gosto vermelho dos lábios, a aspereza da língua. Me agarro aos cabelos, dedos, pés, pêlos, pernas, anéis, unhas – e escorrego lentamente pela bunda, escalo pés, pernas, coxas, bunda e boceta.

E, esquecido, vou vivendo vagarosamente os dias que me restam. Um gato gordo e extenuado dorme absorto sobre a sua barriga.

terça-feira, maio 06, 2008

trem expresso

tomando uma xícara de café expresso, num bar de esquina, num breve instante, num milimétrico segundo, ele pensou no Amor, um diamante infinitesimal microscópico, pedra ancestral, estrela fulminante, objeto distante e agudo, flecha, sangue, pequenez - a dor perdida no meio da lama do infinito dos extremos dos confins do jardim Gramacho


sexta-feira, abril 25, 2008

& o xis do problema!

Seu Mané Periquito me pediu permissão para tirar umas fotografias da mulata Mercedez pelada – pois está preparando um calendário pro Gino Fairestone. Disse que não trabalha mais no lambe-lambe da praça e agora se está dedicando à verdadeira arte. Falei pro seu Mané Periquito deixar de ser abusado. Falei pro seu Mané Periquito pentear macaco com escova helú. Falei pro seu Mané Periquito enxugar gelo na beira da praia de Copacabana. Falei pro seu Mané Periquito ir tirar foto da periquita da dona Maria Periquita. Falei pro seu Mané Periquito que tomar vergonha na cara é melhor que tomar uns bons sopapos.

Seu Mané Periquito & o xis do problema!

domingo, abril 20, 2008

meu piano de cauda Lee Miller sambou ribanceira abaixo

a mulata me pegou no cocuruto do morro admirando as sereias da praia de Ipanena... Não adiantou desfiar toda aquela lenga-lenga do folclore nacional, do Câmara Cascudo, do Mario de Andrade, da licença poética, da beleza da dialética do samba - a criola é profundamente pragmática


lagoa vermelha

Às vezes, lá em cima, do alto do morro, posso ver bem ao longe uma enorme lagoa vermelha, ao sul. Ela é iluminada e abrasada por um imenso sol vermelho. Uma lagoa vermelha onde sereias nadam. Às vezes elas me sorriem e me acenam com suas mãos impressionamente pequenas, dedos minúsculos e unhas vermelhas. As mãos parecem flores. As mãos mais pequenas que as gota da chuva.

Qualquer dia faço um samba-canção pra lagoa vermelha!

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

o passado: a mulata Amesterdan voltou


A mulata Amesterdan, ex-rainha do samba, tristeza de todos os manés e causa mortis de muito valente, voltou com tudo. Está morando num barraco no pé do morro. Diz pra quem quiser ouvir que os sambas do morro já têm sua fonte inspiradora, sua musa, sua cachorra, sua diaba, suas nádegas, sua bunda.

Essa preta é boa mas num tem é calo na língua!

segunda-feira, janeiro 07, 2008

profissão: pensador & equilibrista

segunda-feira, dezembro 03, 2007

profissão: pajé



As palavras escorriam da boca do pai, pelos lábios, através dos dentes, na língua, pela água do rio. Escorrendo com a baba, engrossando com a terra, inundando o rio, avançando, avançando, avançando, virando pedra, virando peixe, virando alga, virando cor.

sábado, outubro 13, 2007

profissão: bailarinas da ilusão

sexta-feira, outubro 12, 2007

profissão: homem-placa


fazem de mim papel reclame
sem pensar no vexame que me possa ferir
(dona clementina de jesus)


terça-feira, outubro 09, 2007

profissão: jagunço

segunda-feira, outubro 08, 2007

profissão: faquir

domingo, outubro 07, 2007

profissão: domador

domingo, setembro 30, 2007

profissão: escafandrista


domingo, agosto 19, 2007

Voulez-vous danser avec moi?

Hoje em dia existem muitas coisas para se fazer. Não se fica mais parado. Muitas atividades, muitos jogos, muita diversão, muita gente, muita ocupação, muitas coisas para se ver e se fazer. Em casa, na rua, no campo, na praia, no shopping, na TV, no Maracanã, na janela, na Lapa, em Ipanema, em Copacabana – Copacabana é um mundo – e o Rio de Janeiro é quase um universo infinito. E ainda, no Santos Dumont, se pode tomar um avião para São Paulo – quantas coisas para se fazer em São Paulo!

Mas eu não saio daqui. Prefiro ficar sentado aqui fazendo nada – quieto – nada o dia inteiro – nada a noite inteira – nada – sempre parado – sem piscar – sem respirar – muito quieto – sem pensar – nada – quase nada. Evitando as coisas, evitando as coisas que se movem – água, Aloysio de Oliveira, areia, Avenida Atlântica, avião, balão, barco, barulho, bunda, cais Pharoux, cão, carros, cavalo, chapéu, chuva, chuva, coca-cola, gato, comida enlatada, dor de cabeça, dor de cabeça, dor de cabeça, dor de cotovelo, elevador, escada rolante (ai! que medo de escada rolante!), foguete, fumaça, furacão, gravata, gripe, guarda-chuva, Copacabana Palace, inseto, insetos, jardim de alah, jardim bothânico, luz, luminária, Macumba, Canjerê, Candomblé, motocicleta, néon, nuvem, onda, paletó, passageiro, pedestre, Petrópolis, piano, poeira, quadris, Rio-Santos, rojão, Rua do Ouvidor, ruídos, sapato, Santa Tereza, selvas, terremotos, tosse cumprida, turbilhão, um abraço no Bonfá, umidade, vento, viva a Penha, xixi, zona norte, zona sul, zabumbas, alfabeto e você –– especialmente, você.


Alfabeticamente –– você.



segunda-feira, agosto 06, 2007

refrão do tempo perdido

em busca do acorde perdido
em busca do pagode perdido
em busca do coração partido
em busca do rio de janeiro perdido

eu vou eu vou eu vou
e não volto

segunda-feira, julho 02, 2007

turismo: na gafieira do seu Vidigal todo mundo bamba


tudo se azeitando no compasso do nosso samba infinito

quinta-feira, junho 28, 2007

turismo: Budapest, Francisco Buarque de Holanda


Budapest me sorri: você, meu rio de janeiro, brisa

turismo: Mindelo, Cabo Verde

Budapest”
o céu de Mindelo: sem você, sem sol, tão Cinza

domingo, maio 20, 2007

cercando o galo

Era uma vaca desgarrada. Se separou do rebanho e ficou vagando perdida na cidade. Ficou assim de lá pra cá até entrar numa boate chique na rua Maria Quitéria, em Ipanema. Sentou-se, deu um murro no balcão e mugiu. O garçom educadamente serviu uma dose de uísque bucanas, doze anos. A vaca bebeu, bebeu, bebeu, bebeu e mugiu muito satisfeita. O garçom solícito e educado serviu outra dose, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra. A vaca bebeu. Sempre com mugidos de extrema satisfação.

Vinte uísques depois, a vaca já parecia meio grogue, o ambiente mais alegre, e o garçom serviu mais uma – a última! – dose. A vaca bebeu num trago só e mugiu. O bar estava cheio. Ninguém queria confusão. E o garçom serviu mais outra – a derradeira! – dose. A vaca bebeu e mugiu. O garçom se fez de besta e não se mexeu. A vaca mugiu, mugiu, mugiu. O garçom chamou o gerente. A vaca já impaciente mugiu. O gerente sorridente e simpático pediu calma. A vaca bastante irritada mugiu. O gerente discretamente chamou o segurança. O vaca chateada mugiu, esmurrou o balcão e levantou. O segurança pediu calma. O garçom pediu calma. A vaca balançou o corpo e mugiu. O segurança pediu calma novamente. A vaca ameaçou engrossar. Os seguranças ameaçaram engrossar. Os garçons pediram calma. A vaca mugiu. Os seguranças todos mugiram. A turma do deixa-disso pediu calma. A vaca mugiu de novo. Os seguranças mugiram. A turma do deixa-disso em uníssono mugiu. Quem é que vai encarar? Um policia aparecido não se sabe de onde mugiu ordem no recinto. Os seguranças, os garçons, a turma do deixa-disso, a turma da Viera Souto, a dona Aracy de Almeida, os policias, os curiosos todos mugiram. A vaca ajeitou o corpo, endireitou a cabeça e o pau comeu. A vaca saiu distribuindo chifradas três por quatro. A vaca distribuiu coices à torta e à direita...

cercando o galo!

Horas depois, no Canal do Mangue, a vaca foi vista vagando sem destino trôpega e bêbeda. E com a voz embotada mugia a Florisbela.

sábado, abril 14, 2007

problemas domésticos - pesadelo (2)

Minha fome rói teu cérebro. Um enorme cupim começa devorando primeiro os olhos. Depois mergulha, através das retinas, nos vasos oculares, nas cavidades cranianas – calcinando os miolos. Apodrece-te vorazmente, preenchendo os desvãos das páginas, os poros, o corpo. Avança além escurecendo o céu, a tragar tempestades. Minha fome consome os livros, o fogo, o espírito, os vidros, as armas, as munições, os homens. Percorre e envolve tudo. Uma cobra que come o próprio rabo. Distorce violentamente o próprio corpo – doendo. Aquece, assa, tritura, mastiga, deglute, vomita – lambendo com lábios lascivos – e uiva. Um enorme verme cavalga na tarde, um centauro, um cavalo, um carro, um trem desgovernado. Ela respira ofegante e consulta incrédula o relógio de pulso.


Depois visita os guichês do Serviço Público a procura de ajuda. Desacata amanuenses, atendentes, secretárias, escriturários e chefes de Repartição esmurrando balcões brancos de fórmica asséptica. Respira ofegante. Consulta os relógios. Corre todo o Mundo, cruzando mares, oceanos, continentes, desertos, mergulhando na Selva.

quinta-feira, abril 05, 2007

problemas domésticos, a nega voltou (1 e 1/2)

Dor
Náusea
Enjôo
Ânsia
Febre
Repulsa
Arrepio
Frio
Sede
Medo
E principalmente Gozo
– quando ela passa
bamboleando
os
quadris

eu finjo que não a vejo – mas minha barriga dói

terça-feira, março 20, 2007

problemas domésticos, a nega voltou (1)

A nega voltou, se apossou do fogão, depois se apossou da sala, e se apossou da tv , e se apossou do radinho de pilha, e se apossou do colchão, e se apossou da rede, e se apossou das chaves do barraco. A nega é ardilosa, manhosa, paciente. Mas a nega está é muito da silenciosa...

Mi cocodrilo verde

domingo, março 04, 2007

Férias merecidas...


Estou em Lagos, Nigéria. Volto ano que vem!


quarta-feira, janeiro 24, 2007

sonhos (8)


eras preta, jabuticaba e doce como uma cesária évora, no fundo da noite de Mindelo

domingo, janeiro 21, 2007

Fragmentos de um sonho endiabrado (7)


Eras Brigitte Bardot. Insistemente, fazendo biquinho e esticando o dedinho lindinho, coquete me pedias:

- Meu bem, não vens?

Um bolero distante repetia:

- Tú me acostumbraste a todas esas cosas...

Meu barraco lá no morro do Macaco em chamas escorregando as ladeiras da Chita, do Tarzã..

- Seguraaaaa, peão!

O cachorro Foguete latindo. O cabo Peixoto rosnando. Dona Maria escandalizada com a barulhada. O mundo descarrilhando e pai Zuzé ralhando:

- Água morro abaixo, fogo morro acima, boiada quando quer estourar, mulher quando que dar, quem segura?

- Macacas me mordam! - meu suspiro final.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

macacas me mordam, Uma Maria! (1)

Cada sonho mano véi! Acho que teus sonhos têm muito do seu Id! Sonhei contigo esta noite, influenciada por tuas imagens. Eu te olhava, como o rinoceronte. E tu me olhavas como a preguiça! KKK! Não gostei! Preferiria estar dançando com o hipopótamo. Ou muito mais ainda, estar naquele quintal à sombra de uma mangueira. Ou até, ver as pernocas atrás da pelota! Mas ser teu carrapicho seria uma ofensa... Meu Id tá sem graça! Mas passa! Kissis nos monkeys!



P.S.: Quase me esqueci. Dag colou na porta do barraco e mandou avisar: “Jorge tu não pode cuidar das crianças. Elas tão com pereba, piolho e cárie. Tu é mesmo muito encardido! Será que não vou ter férias?”