problemas domésticos - pesadelo (2)
Minha fome rói teu cérebro. Um enorme cupim começa devorando primeiro os olhos. Depois mergulha, através das retinas, nos vasos oculares, nas cavidades cranianas – calcinando os miolos. Apodrece-te vorazmente, preenchendo os desvãos das páginas, os poros, o corpo. Avança além escurecendo o céu, a tragar tempestades. Minha fome consome os livros, o fogo, o espírito, os vidros, as armas, as munições, os homens. Percorre e envolve tudo. Uma cobra que come o próprio rabo. Distorce violentamente o próprio corpo – doendo. Aquece, assa, tritura, mastiga, deglute, vomita – lambendo com lábios lascivos – e uiva. Um enorme verme cavalga na tarde, um centauro, um cavalo, um carro, um trem desgovernado. Ela respira ofegante e consulta incrédula o relógio de pulso.
Depois visita os guichês do Serviço Público a procura de ajuda. Desacata amanuenses, atendentes, secretárias, escriturários e chefes de Repartição esmurrando balcões brancos de fórmica asséptica. Respira ofegante. Consulta os relógios. Corre todo o Mundo, cruzando mares, oceanos, continentes, desertos, mergulhando na Selva.
3 Comments:
Inspiradíssimo heim?
Ou Id piradíssimo?
Continuas em forma meu nego.
Parabéns.
Chazinho de capim cidreira ajuda... Se preferires.
Bjo na macacada!
Me, I and myself. UMA.
E isso é vida Seu Djalma??? rs Um beijo
Seu Djalma, texto foda! Vamos devorando nossos respectivos rabos, autofagia e o rabo dos outros, antropofagia ou puro hedonismo, que seja. O negócio é afiar os dentes e deglutir. Depois colocamos um mundo reinventado pra fora, parte nossa, parte deles, parte de tudo, mas sempre outra coisa, sempre outra coisa.
Beijos
Jana.
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