morro do Macaco

domingo, junho 11, 2006

Submundo Carioca (21)

Resolvi esquadrinhar o submundo carioca – tenho muito tempo e não tenho nada melhor a fazer. Resolvi iniciar minhas pesquisas inspirado por um comentário do velho professor de grego Temístocles Pitangueiras.

─ No Campo de Santana – dramático bradava entre tosses e pigarros o velho professor Testícoles, – existe uma boca de lobo que nada mais nada menos é a boca do submundo dos submundos, a bocarra da desesperança, o boqueirão dos mortos, a bocaça do hades bem no meio da nossa capital!

Durante três dias mapeei as bocas de lobos do Campo de Santana. O mapa resultou extremamente intrincado, um verdadeiro samba do crioulo doudo. Depois durante um par de noites, munido de pé-de-cabra, farolete e o diabo a quatro, passei a arrombar todas as bocas de lobo, uma a uma silenciosa e minuciosamente, conforme meu mapa. Me acompanhava na empreitada o cachorro Foguete sempre balançando o seu rabo.

Nossos esforços foram todos vãos: não encontramos nada mais do que nada além de ratos e baratas. Mas uma noite demos conta que sempre por volta da meia-noite uma fila se formava organizadamente ao lado da pica da dona Maria – jocosa alcunha do chafariz central, no meio da praça. Entramos na fila onde homens silenciosos, mulheres silenciosas, todos taciturnos esperavam. Não fizemos perguntas, silenciosos esperamos. No peito iroso ferro, nos órgãos estáticos gelo, gemidos na alma indignada. Nossa vez chegou e juntos afundamos nas sombras.


Professor Testícoles fotografado pelo primo Altamirando, também seu aluno no saudoso D.Pedro II.



1 Comments:

At 2:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Djalmão, eu já te disse, homem... Sua linguagem é malandra. E eu continuo por aqui acompanhando suas caminhadas por um Rio de Janeiro novo-antigo!

Beijos

Jana

 

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