morro do Macaco

domingo, maio 21, 2006

Ventos & Trovoadas (17)

Enquanto eu passeava com o bonde rolê pelas avenidas do Leblon, fotografando nossas belezas naturais, uma ventania sacudiu o meu barraco no alto do morro do Macaco, levando tudo. Carregou a televisão, o fogão, a vitrola, o violão, a cuíca, os retratos da família, meus poemas, a bola de capotão, a chuteira, o telefone, a geladeira, a cama de casal, a camiseira, a cristaleira, a sapateira, a torradeira, os paletós & gravatas, meu despertador. Levou meu João Gilberto, minha Maria Bethânia, minha negra melodia, meu cachorro Paraíba, meu pisante colorido e a minha rolleyflex. Cadê minha escova de dente? Cadê meu sabonete Phebo? Cadê meu desodorante Rexona? Cadê minha aspirina? Onde foi parar minha brilhantina? E onde está minha água de cheiro francesa? A ventania passou sacudindo o barraco, soprando todos cabelos, as cortinas, as janelas, as portas, os espelhos, as pequenas lembranças, os odores, a poeira acumulada debaixo dos tepetes, os equívocos, os medos, as palavras, as raivas, as dores, as cores, meu pão. Fiquei sozinho – acho que não ficou nenhum resíduo de nada.

Quem assoprou esse vento? Terá sido Vadico Kalashnikov? Terá sido coisa da polícia? Ou é apenas uma peça da patota do botequim? Ou então será que seu Hilário resolveu executar toda uma existência de fiados e penduras? Melhor imputar mais esta pequena tragédia ao meu destino de sambista mal amado? Jards Macalé? Terá sido coisa do chefe? Se não, por quê será que ele permitiu? Será que foi engano? Ou terá sido um rabo de foguete descontrolado?

O pessoal do Bonde do Rolê se aventura pelas avenidas do Leblon.

4 Comments:

At 8:27 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Texto musical, cheio de eletricidade de notas, recortes, refrões imaginários, um Rio boêmio de se ver, Um cartão postal século XXI, misturado com anos 30.
Ritmo... Ritmado seu texto... Toque leve-crescente-furioso. Passei por aqui, respirei Rio, voltei pra Salvador prometendo retorno.
Abraços, querido.

Jana

 
At 8:30 da tarde, Blogger Djalma dos Santos said...

tem a tropicália & bossa nova tumen...

 
At 10:05 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Djalma,

Quanta tragédia meu amigo, que infortúnio, de onde vem tanto mau agouro que se abate sobre ti? Desde que Mercedes se foi tu não tivestes mais paz meu caro. Tens aqui neste teu amigo o sustentáculo para superar esta tão difícil fase em tua vida. Acredito que a Mercedes é que está fazendo falta em tua vida, ela pode ser sim o retorno aos bons dias. Um grande abraço.

Catano Mangalho

 
At 5:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

uau!

 

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