morro do Macaco

domingo, julho 09, 2006

a tarde caía desengonçada sobre a praia de Ipanema (28)

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Caminhei até a praia de Ipanema. Sentei de frente para o mar e comecei a contar ondas, barquinhos, borboletas, gaivotas, andorinhas, sabiás, morros, favelas e aviões. Uma, duas, três, quatro... Um, dois, três, quatro... Uma, duas, três, quatro...
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Uma mocinha loura se aproximou e me convidou para jogar frescobol. Ela era magrinha, lourinha e estava muito bonita de biquíni branco.
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Jogamos frescobol. Tomamos uma coca-cola. Voltamos a jogar frescobol. Fomos jogar capoeira. Jogamos frescobol de novo. Fomos nadar juntos até o fundo do mar. Fomos até um barquinho branco, que balançava lá longe. Subimos nele, descansamos nele, mergulhamos dele. E nadamos de volta.

de cima do arpoador a turma tirava a maior onda
de cima do arpoador a turma tirava a maior onda

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Saímos da água. Deitei na areia quase morto: eu não nadava nada. Ela brilhava translúcida na luz da tarde – me sorrindo, me olhando. Ela realmente era muito bonitinha, uma coisa mais linda de cabelos dourados, pele branquinha, olhos verdes, uma sereiazinha flutuando na brisa da tarde de Ipanema.
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Corremos até o Leblon. Tomamos uma coca-cola. Corremos de volta até Ipanema. Quase morri. Tomamos outra coca-cola.
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Aí, ela falou que ia embora porque era tarde e tinha muita coisa para fazer em casa. Falei que ia ficar ali. Pretendia continuar ali contando as ondas. Pedi para ela voltar. Ela prometeu que voltaria com um farolete para alumiar. Prometeu me ajudar na contagem – tinha muita onda no mar, sozinho eu não daria conta de coisa nenhuma, não daria conta de nada mesmo.
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Calculei mais um desengano. Calculei mais um desencontro. Calculei uma desilusão.

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Mas ela voltou. Voltou depois da novela da oito.
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Primeiro contamos ondas. Depois, deitados na areia, contamos estrelas.
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Ela me perguntou o que eu fazia. Eu disse que não fazia nada mas fazia nada muito bem, com muita dignidade, elegância, classe. Ela me disse que cantava mas não cantava nada muito bem. Eu disse que era do samba. Ela me pediu um samba. Assoviei eu e a brisa. Ela disse que samba-canção não valia. Pedi então para ela cantar algum samba de mais valia. Ela disse que só cantava no chuveiro. Encerramos o papo
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e continuamos silenciosamente contando estrelas do mar noite adentro buscando um sonho em forma de desejo.

2 Comments:

At 9:43 da tarde, Blogger Gata Guu said...

Djalmão,

Já fui loura dourada de farmácia.
Sei que não tem a mesma graça.
Mas alguém sempre se agrada.
Enquanto a tarde cai desengonçada.

By,

(=^=^=)

 
At 10:28 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eita homem dos textos gostosos de ler. Toda vez que saio daqui, caminho com um tanto de samba nos ouvidos, outro tanto de mar nos cabelos, um tanto de vidas nos dedos.
Eita Djalmão da porra! Eita homem da escrita-molejada!... E amolada!

Beijos, homem

Jana

 

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