Voulez-vous danser avec moi?
Hoje em dia existem muitas coisas para se fazer. Não se fica mais parado. Muitas atividades, muitos jogos, muita diversão, muita gente, muita ocupação, muitas coisas para se ver e se fazer. Em casa, na rua, no campo, na praia, no shopping, na TV, no Maracanã, na janela, na Lapa, em Ipanema, em Copacabana – Copacabana é um mundo – e o Rio de Janeiro é quase um universo infinito. E ainda, no Santos Dumont, se pode tomar um avião para São Paulo – quantas coisas para se fazer em São Paulo!
Mas eu não saio daqui. Prefiro ficar sentado aqui fazendo nada – quieto – nada o dia inteiro – nada a noite inteira – nada – sempre parado – sem piscar – sem respirar – muito quieto – sem pensar – nada – quase nada. Evitando as coisas, evitando as coisas que se movem – água, Aloysio de Oliveira, areia, Avenida Atlântica, avião, balão, barco, barulho, bunda, cais Pharoux, cão, carros, cavalo, chapéu, chuva, chuva, coca-cola, gato, comida enlatada, dor de cabeça, dor de cabeça, dor de cabeça, dor de cotovelo, elevador, escada rolante (ai! que medo de escada rolante!), foguete, fumaça, furacão, gravata, gripe, guarda-chuva, Copacabana Palace, inseto, insetos, jardim de alah, jardim bothânico, luz, luminária, Macumba, Canjerê, Candomblé, motocicleta, néon, nuvem, onda, paletó, passageiro, pedestre, Petrópolis, piano, poeira, quadris, Rio-Santos, rojão, Rua do Ouvidor, ruídos, sapato, Santa Tereza, selvas, terremotos, tosse cumprida, turbilhão, um abraço no Bonfá, umidade, vento, viva a Penha, xixi, zona norte, zona sul, zabumbas, alfabeto e você –– especialmente, você.
Alfabeticamente –– você.