morro do Macaco

domingo, setembro 24, 2006

estrépito de palavras trôpegas (33)

Estou atento a todos os ruídos. O rumor dos veículos automotivos, o tilintar das moedas, o estrépito das palavras, a respiração das algas sob o mar profundo, as asas das abelhas. Escuto a eletricidade nos fios de alta-tensão, o movimento silencioso dos planetas, psius, ais, as bolhas de champanhe, o sino do Rosário. Ouço distante a neve caindo sobre Reykjavík, o risco do giz, o choro do morto, Paris, pés subindo a escadaria da Penha, cavalos escoiceando, o vento, preguiças, tamanduás, tatus, onças, jaguatiricas, pacas, muriquis, capivaras, mutuns, elefantes, ursos, macacos e leões de circo. O estrondo da bola na trave, o tiro no coração, o crescimento lento dos galhos da amendoeira no passeio público, as orquídeas, o gozo escorrendo nas pernas da puta, toda a zoada no canal do Mangue, o sono, a curva do bonde de Santa Teresa, as ondas, o vento e os peixes. E o rumor das raízes das árvores sugando a terra, o pão nosso de cada dia, o sangue escorrendo, o pigarro, o apito da fábrica de tecido, os tamborins, os tambores, os espíritos, os terreiros, as sereias.

Amolador da Vida, Alberto Korda

Assim infinitamente, balançando na rede, miro a cidade, apuro meus ouvidos e classifico obsessivamente todos os sons possíveis tentando ouvir-te.


7 Comments:

At 10:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eita, seu Djalma, que tanto de música caindo ritmada nos ouvidos dos passantes. É o suspiro da menina assistindo as novelas, o metrô freiando para pernas entrarem, o toque-toque dos sapatos, a respiração no gozo, o tilintar dos brincos, o descer das meias. São sons, cheiros, imagens, toque e tudo invadindo os sentidos e tudo pedindo passagem.

Beijos, seu Djalma.

Jana

 
At 9:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Recebi uma mensagem no orkut e vim conhecer sua "casa". Lindos textos, lindas fotos. Parabéns, Djalma. Um beijo

 
At 9:09 da tarde, Blogger Nana Magalhães said...

eu também escuto tudo isso e muito mais quando leio você.
m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o.
sempre.
beijo meu, cumpadre.
;*

 
At 10:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

estou me rendendo ao Morro do Macaco , vou linkar seu blog ao Sensível Desafio. E se aquele meu texto te fez pensar em Mercedes, fico feliz, algum valor ele tem...rsss um beijo

 
At 10:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Oi, Seu Djalma, adorei a historinha da Brigitte Bordô que o senhor contou lá no meu blog.. Hoje colei por lá umas bandeirinhas.. rs. Um beijo e um bom domingo.

 
At 11:39 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lindo!!!

 
At 10:29 da tarde, Blogger Unknown said...

meu corpo permeado de ruído
os motores me atravessam
caminhões, motos rugem
cada carro que passa me leva um um pouco
e sou só fumaça de óleo disel podre
um vazio silente um desvão, meu nome
na calçada ingrata da cidade insone

eu cá embaixo
e você no morro

 

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